Nenhuma ferida fala por si mesma

E é verdade. A dor, o grito, o coxear, são entre outras, as manifestações exteriores e interiores que denunciam algum mal-estar ou trauma.

Devo saudar o advogado Elísio de Sousa que de forma voluntária decidiu rumar a Nova Iorque para acompanhar de perto o veredito do caso Boustani. É melhor andar milhares de quilômetros do que ler milhares de livros, diz o ditado chinês, este povo repositório de grande sabedoria, que também afirmam que o homem sábio toma suas próprias decisões, mas o homem ignorante segue a opinião pública. E num contexto onde a opinião pública nacional é dominada por opiniões de ignorantes e malfeitores, Elísio é para mim o epítome do novo espírito investigativo. VIVA ELÍSIO! Sábio e atento à tendência decadente da verdade, Elísio preferiu ir aos EUA ver de perto e ouvir em primeira-mão o veredito. E não me parece que estava tao longe das suspeitas.

O Elísio tinha já percebido que o que vinha sendo reportado a partir dos EUA para Moçambique era tudo menos informação. Eram opiniões de quem estava à procura de algo específico e não necessariamente acompanhar e reportar a verdade. As opiniões são como unhas: quanto mais as toca, mais profundamente elas penetram.

Julgamento é um processo de produção de provas e da verdade. O que tivemos como in(de)formação eram opiniões de quem la foi não para nos dizer do processo de julgamento à luz da acusação dos EUA, mas de mexericos. A pergunta que orientou o trabalho dos TIUAS da nossa vida não foi QUAL É A VERDADE À LUZ DAS ACUSAÇÕES QUE PESAM SOBRE BOUSTANI? Pelo contrário, a pergunta que os orientou foi: QUEM EM MOÇAMBIQUE COMEU COM BOUSTANI?

*Enquanto o sábio apontava para a lua, o tolo olhava para o dedo!* Enquanto o Juiz Kuntz dirigia o julgamento para apurar a culpabilidade ou não das acusações de conspiração ou fraude eletrónica, eles se ocupavam em tomar tudo o que Boustani dissesse (mal) sobre Moçambique em verdade. Ou seja, um lesa-pátria, Boustani foi tomado pelos nossos jornalistas por um novo DANIEL, o profeta que desta vez, estava ali para desencriptar todos códigos da dívida oculta! SÓ QUE BOUSTANI TINHA UMA ESTRATÉGIA DE DEFESA que se concentrou em explorar as fragilidades da acusação. OLHE PARA A LUA, TOLO, NÃO OLHE PARA O DEDO DO SÁBIO! Não sopre pele para encontrar a cicatriz por baixo.

E foi o que se viu. Em apenas um dia, Elísio foi capaz de apanhar o GATO que se fazia passar por LEBRE e deitá-lo fora do recinto. Nova Iorque é um lugar fantástico para se estar. Muita cerveja por beber e muita roupa por comprar. “Que se dane o julgamento e a verdade que o que os moçambicanos querem saber é Boustani comeu com quem, e pronto”. E foi assim que fomos entretidos com rabo de vaca, três beijos ou paus chineses.

É um fracasso tremendo quando nos despedimos da família para a caça, prometendo trazer de volta um búfalo e em vez disso, apresentarmos uma ratazana.

Boustani foi declarado não culpado lá, à luz das leis americanas. Mas cá, ele continua um lesa-pátria de grande calibre e seus pecados jamais serão perdoados. Nenhum estado faz justiça ao outro estado, ouvi e li algures aqui no Facebook e concordo. Moçambique esteve sempre certo no que tange a gestão e encaminhamento deste caso. É aqui onde as coisas irão acontecer. Será em Londres onde o Estado tentará ser ressarcido pelos danos. E vai seguir este caminho seguro até a conclusão do caso.

Parabéns Elísio por nos ter dado uma opinião alternativa do que efectivamente aconteceu lá. Chegue logo que estamos sedentos de beber de ti. Obrigado por nos ter diagnosticado as feridas da reportagem.

OBRIGADO, OBRIGADO, OBRIGADO.

NENHUMA FERIDA FALA POR SI MESMA. E eles precisavam-te para dizerem o que sentiam, o que faziam e não sabiam que faziam e ou não sabiam.

Por: Egidio Vaz | shorturl.at/JLOST